Raissa, tenho 37 anos e trabalho no tribunal de justiça do estado da paraíba. Moro em João Pessoa e foi aqui que me descobri corredora e entusiasta da vida mais saudável, do esporte como cura.
Comecei a correr não faz muito tempo, foi na pandemia, em 2021. Sou uma corredora "pandêmica", como gosto de brincar. Nesse mesmo ano, fiz a minha primeira prova logo que os eventos esportivos começaram a ser liberados. Minha primeira corrida foi subindo serras em trilhas na cidade de bananeiras/pb, e realizei minha primeira maratona. Tudo aconteceu rápido e intenso, pois eu precisava explodir e colocar muita coisa para fora.
Minha aventura na corrida começou pela necessidade de cura: a ausência do meu pai, que havia falecido; a baixa autoestima (estava bem acima do meu peso); crises fortes de ansiedade; um relacionamento fracassado e abusivo; sobrecarga na vida profissional; solidão; sensação de pequenez e de me aprisionar nos meus medos e inseguranças. Eu não estava feliz comigo mesma, estava doente, e só sabia chorar e me esconder. Comecei a trotar e caminhar em um parque ao lado de casa por um tempo, até que meu primeiro treinador de corrida me abordou e me mostrou o que era uma planilha de treinos.
Correr me devolveu a mim. Quando saio para correr, seja em um treino ou em uma prova, me sinto vencedora. É uma batalha, me vejo forte, enfrento minhas inseguranças e posso ir mais longe. Às vezes ganho da corrida, às vezes a corrida ganha de mim, e na maioria dos dias, nós duas ganhamos juntas! Foi assim que as maratonas me conquistaram: eu sou a “super mulher” e a maratona, a minha passarela. Me arrumar para treinar faz parte do ritual. O esporte, antes restrito aos homens, me devolveu minha vaidade e minha feminilidade. Me ensinou a cuidar da minha saúde, a entender que não só o meu corpo, mas também a minha mente precisa de descanso.
A corrida me ensinou a admirar outras mulheres e a encorajá-las a não desistir. Mulheres de vida real, meus exemplos, que precisam de mais tempo, mais dinheiro, mais cuidado, mais liberdade, mais espaço, mais segurança, mais descanso, mais amor. Mulheres sobrecarregadas que seguem treinando, pois assim como eu, descobriram que o esporte é a nossa arma, que ele nos fortalece e nos ajuda a não parar. E assim, cheguei no Instagram e, como micro influenciadora, tento mostrar o quanto a corrida transformou a minha vida e segue construindo uma Raissa mais humana e obstinada.
Ver iniciativas como essa surgindo e exaltando quem somos e a nossa importância para esse esporte me faz acreditar que estamos no caminho certo, que podemos defender o nosso espaço e seguir levando mais lições e brilho para a corrida. A cada mulher que calça um par de tênis e vai às ruas, muitas outras são encorajadas a cuidar de si. Quando corremos sozinhas, somos incríveis. Quando corremos juntas, somos imbatíveis. Que cada uma de nós tenha o direito, a oportunidade e a alegria de cruzar muitas e muitas linhas de chegada.
Com amor e muitos kms,
Rah.
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